SONHAVA EM SER MÃE: Grávida m0rre junto com bebê após não ag… Ver mais

Na vastidão das rodovias brasileiras, onde o asfalto parece se estender infinitamente em meio a paisagens repetidas, a morte espreita nas margens. O que deveria ser apenas mais uma tarde comum no norte do Paraná acabou se tornando o palco de uma tragédia que chocou a região e reacendeu um velho debate: até quando nossas estradas continuarão sendo armadilhas disfarçadas de progresso?
Era terça-feira, 24 de junho. O relógio marcava pouco depois das 15h quando uma ambulância da prefeitura de Andirá cruzava a BR-369 com pressa — não de forma imprudente, segundo os relatos iniciais, mas com a urgência que uma situação médica exige. Dentro do veículo, Andreza do Carmo Alves, de 25 anos, gestava a esperança de uma nova vida. Grávida, seguia para um exame importante.
Ela, o bebê, a avó e a equipe médica que a acompanhava jamais imaginavam que estavam prestes a entrar para as estatísticas mais cruéis do trânsito brasileiro.
A ambulância realizava uma ultrapassagem em um ponto permitido da rodovia.
Nada fora do previsto. Mas, como em tantos outros trechos das BRs mal planejadas, mal sinalizadas e perigosamente estreitas, uma brecha para o desastre se escancarou. Um carro surgiu na direção contrária e não houve tempo de evitar. A colisão frontal foi inevitável. O impacto virou a ambulância, que ainda se chocou com duas caminhonetes antes de parar. O silêncio que se seguiu foi breve, antes de ser rompido pelos gritos de socorro, sirenes e um frenesi de desespero.
Andreza foi encontrada em parada cardiorrespiratória. Enquanto a equipe do Samu e os bombeiros tentavam reanimá-la, um dilema angustiante se impunha: salvar a mãe ou tentar salvar o filho? A cesariana de emergência foi feita ali mesmo, no acostamento, entre ferragens e destroços. O bebê nasceu sem sinais vitais. E pouco depois, Andreza também partiu.
O drama não terminou ali.
Cinco outras pessoas ficaram feridas, incluindo a avó de Andreza. Todos foram socorridos e encaminhados a hospitais da região. O trecho da rodovia, entre Andirá e Bandeirantes, precisou ser completamente interditado por horas.
Enquanto o tráfego se acumulava, a notícia começava a se espalhar: mais uma família havia sido destruída em uma das rodovias mais movimentadas e perigosas do estado.
A Polícia Rodoviária Federal confirmou que a ultrapassagem ocorria em local autorizado. Mas isso basta? A pergunta ecoou entre autoridades e especialistas em segurança viária. A EPR, concessionária responsável pela rodovia, afirmou que as causas do acidente ainda estão sob investigação.
Mas o sentimento de impotência já havia se instalado.
O caso gerou comoção não apenas pela brutalidade do acidente, mas pela simbologia que carrega: uma gestante em busca de atendimento médico, dentro de um veículo público, que deveria garantir segurança — e não levá-la ao seu fim. A morte de Andreza e de seu bebê levanta questões urgentes sobre os protocolos de emergência, o preparo dos motoristas de ambulância e, sobretudo, sobre a condição precária de trechos inteiros do sistema viário nacional.
O Brasil segue liderando o ranking mundial de mortes no trânsito. São vidas interrompidas em curvas perigosas, em ultrapassagens mal calculadas, em decisões tomadas em segundos — mas que cobram o preço de uma eternidade.
Segundo especialistas, há um abismo entre o que é previsto em normas e o que realmente se pratica nas estradas. E nesse vácuo, o imprevisível se instala.
No caso da BR-369, que já acumula um histórico de acidentes graves, o alerta é antigo. Entidades civis pedem há anos melhorias na sinalização, duplicação em trechos de risco e campanhas de conscientização. Mas enquanto as obras não chegam e a fiscalização permanece falha, motoristas seguem cruzando seus caminhos com o acaso — e, muitas vezes, com a tragédia.
Andreza não voltará. Seu bebê não terá a chance de abrir os olhos para o mundo. Mas o que ainda pode ser feito para que outras histórias como a dela não sejam apenas manchetes passageiras?
A pergunta fica. E o silêncio das rodovias, que volta depois das sirenes, continua sendo o mais perturbador de todos.