Papa Leão XIV declara que não aceita maneira que Francisco lidava com os g… Ver mais

Na manhã de sexta‑feira, 16 de maio de 2025, o recém‑eleito Papa Leão XIV, de 69 anos, ofereceu sua primeira grande declaração sobre assuntos sociais que costumam gerar intenso debate. Tendo assumido o pontificado em 8 de maio, ele já vinha sinalizando uma guinada mais conservadora em comparação com seu antecessor, Papa Francisco, mas o discurso proferido diante do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé tornou essa diferença inequívoca e oficial.
Falando no Palácio Apostólico, Leão XIV começou por enaltecer “a missão perene da Igreja de servir como farol moral num mundo confuso”, sublinhando que três princípios guiarão seu pontificado: paz, justiça e verdade. Em seguida, voltou‑se ao tema da família, classificando a união entre um homem e uma mulher como “a célula primeira e insubstituível de qualquer sociedade estável”.
Segundo ele, “o Estado tem o dever claro de proteger, promover e valorizar a família tradicional”, pois, sem essa base, “nenhuma nação pode aspirar a uma paz duradoura nem a uma prosperidade autêntica”.
A ênfase contrasta com o tom mais flexível de Francisco, que chegou a autorizar, ainda que de forma limitada, bênçãos pastorais a casais do mesmo sexo.
Foi nesse ponto que Leão XIV falou de maneira explícita sobre a homossexualidade, afirmando que “a Igreja, em consonância com a lei natural e com a Sagrada Escritura, não pode aprovar atos nem uniões que se oponham ao desígnio criador de Deus”.
Embora tenha reiterado que todo ser humano “merece respeito e acompanhamento espiritual”, o Papa declarou que é “um erro grave equiparar ou legitimar, civil ou religiosamente, relações homossexuais como se fossem matrimônio”. Essa posição cristaliza o que muitos analistas descrevem como uma ruptura com a abordagem pastoral de Francisco, que buscava acolher pessoas LGBTQIA+ enfatizando a misericórdia sem alterar a doutrina.
No tocante à defesa da vida, Leão XIV reafirmou a oposição absoluta ao aborto, chamando‑o de “ferida profunda infligida à família humana”. Ele solicitou que governos implantem políticas que amparem gestantes em dificuldade, oferecendo‑lhes alternativas reais à interrupção da gravidez.
O Papa também mencionou a eutanásia, advertindo contra “uma cultura do descarte que pretende resolver o sofrimento eliminando o sofredor”.
Ao abordar a liberdade religiosa, definiu‑a como “pilar de toda autêntica democracia”, exortando nações a protegerem minorias confessionais. Paralelamente, destacou a urgência do diálogo inter‑religioso, sobretudo “onde ainda se semeiam suspeitas ou violências em nome de Deus”.
Curiosamente, apesar de seu tom conservador, Leão XIV manteve a ênfase franciscana na acolhida aos migrantes. Conclamou os países ricos a agirem “com coração e razão” para aliviar crises humanitárias, fazendo alusão velada a políticas de fronteira rígidas — uma crítica percebida como indireta ao ex‑presidente norte‑americano Donald Trump.
Fechando o discurso, o Papa pediu orações pelos conflitos que dilaceram a Ucrânia e o Oriente Médio, qualificando‑os de “feridas abertas que clamam por justiça”.
Observadores veem nessa combinação de firmeza doutrinal e preocupação social o contorno inicial de um pontificado que, ao mesmo tempo em que endurece sobre moral sexual, pretende manter viva a tradição diplomática vaticana de mediação e caridade.
Com essa mensagem inaugural, Leão XIV inaugura uma nova etapa na Igreja Católica. Se, por um lado, reafirma a ortodoxia em matéria de sexualidade e vida, por outro se compromete com causas humanitárias globais, delineando um papado que promete repercutir longamente — dentro e fora da Igreja — nos anos que virão.