Idoso sonha com fortuna, cava buraco de 40 metros em sala e morre ao escorregar e cair d… Ver mais

Por trás de uma porta comum, em uma rua silenciosa do bairro Betânia, em Ipatinga (MG), escondia-se uma história digna de um enredo cinematográfico — com mistério, obsessão e, por fim, tragédia. O que começou como um simples sonho se transformou em uma jornada silenciosa e solitária por um tesouro oculto, culminando em uma morte que abalou a vizinhança e intriga a cidade.
Era noite de quinta-feira, 4 de julho, quando o Corpo de Bombeiros foi chamado para uma ocorrência incomum. A cena que encontraram não parecia real: um buraco estreito, com cerca de 90 centímetros de diâmetro, mergulhava por 40 metros no solo da área de serviço de uma residência modesta. E no fundo dele, estava o corpo de João Pimenta da Silva, de 71 anos, vítima de sua própria crença.
Um Sonho Dourado
Tudo teria começado, segundo vizinhos e familiares, com um sonho. João acordou certo de que tinha recebido uma revelação divina: debaixo de sua casa havia ouro. Um tesouro escondido, esquecido pelo tempo, enterrado sob camadas de terra, esperando apenas por alguém com coragem (ou fé) o suficiente para buscá-lo.
Movido por essa convicção, ele começou, há cerca de seis meses, a escavação. Sozinho, sem alarde, como um verdadeiro garimpeiro urbano. A cada dia, descia mais fundo na terra, cavando pacientemente, reforçando as laterais do túnel com pedaços de madeira e esperança.
“Ele dizia que sentia que o ouro estava perto. Era como se algo o chamasse”, contou um vizinho, que preferiu não se identificar.
A história se espalhava pelo bairro como uma lenda viva. Muitos achavam graça. Outros, estranhavam o silêncio com que João tocava o projeto. Ninguém imaginava o desfecho que isso teria.
O Último Mergulho
Na noite fatal, João teria concluído mais uma etapa da escavação. As madeiras que sustentavam a entrada do buraco estavam desgastadas. Segundo relatos de testemunhas, ao tentar sair do túnel, ele se desequilibrou e caiu — uma queda livre de 40 metros.
Os bombeiros levaram horas para resgatá-lo. Quando finalmente conseguiram içar o corpo, a cena era brutal. João apresentava fraturas expostas nas pernas, quadril quebrado, laceração abdominal, trauma no tronco e um grave traumatismo craniano.
Já estava sem vida quando foi retirado do túnel.
A Busca Que Ninguém Viu
O que intriga é como uma escavação tão profunda — praticamente a altura de um prédio de 13 andares — pôde acontecer por seis meses sem que chamasse maior atenção. A resposta pode estar no perfil reservado de João.
Morador antigo do bairro, ele era conhecido como uma figura tranquila, quase sempre solitária.
“Não era de conversar muito, mas também nunca teve problemas com ninguém”, comentou um comerciante da região.
Durante meses, João cavou, carregou terra, reforçou as paredes da cova e desceu cada vez mais fundo. Tudo com as próprias mãos. Não há indícios de que tenha usado máquinas ou ferramentas pesadas. O que existia era a fé — ou obsessão — de encontrar algo que apenas ele acreditava existir.
Tesouro ou Alucinação?
A Polícia Civil ainda investiga o caso. Por ora, não há indícios de que João tenha encontrado qualquer vestígio de ouro ou objetos de valor. Nenhuma pepita. Nenhuma moeda.
Apenas terra e madeira. Mas a pergunta que ronda a vizinhança é outra: e se ele estivesse certo?
“Talvez ele tenha morrido antes de chegar ao ponto certo. Talvez estivesse escavando no lugar errado. Quem pode saber?”, diz um morador, que agora olha com outros olhos para o chão que pisa.
Além do Ouro: A Busca Humana
Mais do que uma história de garimpo urbano, o caso de João Pimenta levanta reflexões profundas sobre os limites da fé, da solidão e da esperança.
O que leva uma pessoa a se entregar por inteiro a uma causa tão incerta? A que profundidade pode nos levar um sonho?
O buraco ainda está lá, cercado por fitas de segurança e olhares desconfiados. Para alguns, é apenas o cenário de uma tragédia evitável. Para outros, o símbolo de uma jornada de fé levada ao extremo — uma busca interior que acabou soterrada pelo próprio peso.
E no fim das contas, ninguém sabe dizer se João morreu tentando encontrar ouro… ou tentando preencher um vazio muito mais profundo.