Vídeo inédito, gravado dentro de balão antes de cair, mostra passageiros des… Ver mais

Na manhã do último sábado, 21 de junho, o céu claro da cidade de Praia Grande, no sul de Santa Catarina, parecia perfeito para um passeio turístico. Conhecida como a “Capadócia brasileira”, a região atrai aventureiros e casais em busca de paisagens deslumbrantes a bordo de balões coloridos que dançam sobre cânions e vales. Mas aquele voo, que começou com expectativa e sorrisos, terminaria em gritos, desespero e luto.
O que era para ser um momento de contemplação se transformou em uma das maiores tragédias aéreas do turismo de aventura no Brasil. Um balão com 21 pessoas caiu, vitimando oito passageiros — quatro morreram na queda, outras quatro foram carbonizadas. Treze sobreviveram, inclusive o piloto. Mas o trauma, garantem, vai durar para sempre.
As primeiras faíscas do horror
Tudo começou discretamente. Um estalo, um cheiro diferente no ar. Segundo relatos de passageiros e vídeos obtidos pelo , o pesadelo começou com um pequeno foco de incêndio no piso do cesto do balão. Em segundos, o fogo se alastrou.
“A gente percebeu o início das chamas no chão. Depois, o fogo foi subindo até alcançar o cilindro de gás”, contou o engenheiro de software Marcel Cunha Batista, que sobreviveu à queda.
As imagens são angustiantes. O pânico se espalha rapidamente entre os passageiros. Vozes desesperadas sugerem soluções improvisadas: “joga o casaco!”, “tenta tirar o cilindro!”.
Em meio ao caos, um grupo tenta conter as chamas com o que tem em mãos. Mas não há tempo. E nem meios.
O piloto e a descida de emergência
Do alto, o piloto Elves de Bem Crescêncio luta contra o fogo com os pés. Tenta, sem sucesso, usar um extintor — o equipamento falha no momento mais crítico. Sem alternativa, ele inicia uma manobra arriscada: uma descida de emergência.
O relato de um sobrevivente revela o momento de terror e decisão: “Ele [o piloto] falou: ‘quando o balão tocar o chão, vocês pulam’. Era isso. A única chance”. Quando o cesto atinge o solo com força, os passageiros pulam de onde conseguem, alguns com fraturas, outros em choque.
São 13 os que conseguem escapar, incluindo o próprio piloto.
Mas aí o balão, aliviado do peso, volta a subir — sozinho. O fogo, ainda ativo, alimentado pelo gás restante, faz com que a aeronave suba de forma descontrolada, levando consigo os oito que não conseguiram saltar a tempo.
Testemunhos da tragédia
Do chão, sobreviventes assistem a uma cena que jamais esquecerão.
A namorada de uma das vítimas, em estado de choque, disse que não percebeu que nem todos haviam pulado. “Quando virei, vi o balão ainda no ar e pessoas caindo de lá de cima. Foi horrível.”
O impacto da queda foi fatal para quatro passageiros. Os demais foram consumidos pelas chamas que tomaram completamente o balão após a colisão. A cena, descrita por testemunhas, foi de completa devastação.
Causas e investigações
As autoridades já iniciaram as investigações para apurar as causas do acidente. Segundo informações preliminares, o incêndio teria começado em um maçarico auxiliar presente no cesto, usado para aquecer o balão.
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Polícia Civil já ouviram o piloto e outros sobreviventes. O piloto tinha licença válida, e o balão estava regularizado. No entanto, há dúvidas sobre o uso do equipamento adicional de aquecimento e sobre a manutenção do extintor de incêndio — que não funcionou.
Enquanto os técnicos trabalham, os voos com balões em Praia Grande estão temporariamente suspensos.
A prefeitura da cidade decretou luto oficial e anunciou que irá revisar os protocolos de segurança dos passeios turísticos na região.
“Estamos vivos, mas não estamos em paz”
Os 13 sobreviventes tentam lidar com a dor de ter escapado. “É um alívio estar vivo, mas um peso enorme saber que outros não tiveram a mesma sorte”, disse Marcel Cunha, ainda com marcas visíveis de queimaduras nos braços.
O trauma psicológico, segundo especialistas, pode levar anos para ser processado. Muitos dos resgatados afirmaram que jamais voltarão a subir em uma aeronave.
O caso também reacende o debate sobre a regulamentação do turismo de aventura no Brasil.
As imagens do balão em chamas, o desespero captado em vídeo, os gritos e as perdas — tudo isso serve como alerta.
A tragédia de Praia Grande ficará marcada na memória dos brasileiros. Um voo para o céu que terminou no inferno. E que agora exige respostas, justiça — e mudanças.